segunda-feira, 31 de maio de 2010

O Aniversário de Minha Morte I

Não vos falo do além (se isto é possível)
A carne, a tenho em estado perfeito
E, a contragosto, sinto inda no peito
O palpitar d’um órgão desprezível

Padeci d’outra morte, mais terrível
Que a do que repousa em fúnebre leito
E, de bom grado, mais rogo que aceito
Selar-me a natureza perecível

Avesso ao que rege o instinto, pelejo
Contra a vida, e mesmo eu cogitaria
Por minhas mãos dar-me o sono que almejo

Em estar vivo, não me há mais serventia
Se, no amar, esperança alguma vejo
Que razão no viver, pois, mais veria?