sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Da Estrela ao Girassol

Lembro-me como se fosse hoje, ou, como se fosse no próximo domingo. Centenas de pessoas em festa, comemorando o término das eleições de 2002, que resultou na vitória do maior presidente que este país já viu.

Durante todo o período de campanhas eu havia saído às ruas de Teresópolis, no fervor dos meus dezesseis anos, gritando e rogando por um Brasil melhor. Leia-se: saí às ruas em campanha por Luiz Inácio LULA da Silva. No momento, restava comemorar a tão esperada vitória no pleito. Caixas de panfletos que haviam sobrado eram levadas de dentro do comitê para as calçadas e então nós os pegávamos aos montes, e arremessávamos para o alto, tornando a Avenida Delfim Moreira, próximo a esquina com a Rua Emille Ducumunn, um mar de papéis. Eram nossos confetes e serpentinas.

Com o broche de estrela no peito, eu levantava a bandeira do PT, não pelo partido em si, do qual nunca fui filiado, mas pelo candidato que o representava - tanto que, no meio de toda esta algazarra, também figuravam bandeiras do MST, do PSTU e alguns outros partidos que não me recordo. Na verdade, não era eu quem levava a bandeira, mas a porta-bandeira com a qual eu me fazia de mestre-sala, dançando ao som de um dos jingles da campanha, composto em ritmo de samba, que o enorme carro de som tocava, e que dizia: “Agora é Lula, falta pouco, quase nada, nossa pátria tão amada já não quer mais esperar”. E já não faltava nem mesmo o pouco.

Sei que muitos estão encucados com o que eu estaria ganhando para tanto. Os respondo com toda honestidade que nada. Nenhuma promessa de cargo comissionado, ou benefício qualquer, em dinheiro ou não, para mim ou qualquer membro de minha família. E sabemos o quanto é fácil lucrar em campanhas políticas. Some a isto o fato de que, a época, eu morava com minha mãe e uma irmã, em uma casa improvisada no terreno dos meus tios e trabalhava como empacotador em um hortifruti da cidade, recebendo pelos meus serviços apenas o que os clientes me davam de gorjeta. Sendo muito bem vindo qualquer trocado que pudesse receber para fazer campanha política. Mas nada pedi em troca. Esperava que a recompensa viesse.

E assim foi feito. Mesmo que nenhum proveito próprio tenha tirado durante a campanha, as recompensas vieram por seu resultado. Continuei sem receber nenhum favor pessoal, não ganhei nada mais que nenhum outro brasileiro tenha ganho também com o governo Lula, ou seja, ganhei muito.

Lula encontrou um país abandonado e destruído por antigos administradores e fez milagres. Hoje, temos um país melhor para todos, muito mais justo, e em constante desenvolvimento. E tenho o prazer de dizer que participei ativamente disto. É claro que muito ainda há para ser feito, mas não quero entrar nestes méritos. Ao menos, não em âmbito Federal.

Poderão também vir, finalmente, perguntar-me como eu estaria se o governo de Lula deixasse a desejar. Respondo, sem medo de estar errado, que não estaria arrependido. Eu teria lutado por algo no qual eu acreditava. E quantas vezes não lutamos por causas que se mostram indignas de nosso empenho no futuro? Mas mesmo assim, na hora nos pareceu o mais correto a se fazer. E foi imensamente prazeroso.

Queria, agora, falar um pouco de como todas estas lembranças me vieram à memória. E o responsável por isso se chama Ricardo Coutinho.

Como já disse acima, nada ganhei para fazer campanha para o presidente Lula. O fiz por estar indignado com a situação em que se encontrava nosso país, e por acreditar que ele poderia mudar isto, e ele não me decepcionou. Em palavras mais românticas: fiz por amor à causa.

Da mesma forma, nada estou ganhando, ou vislumbro receber pelos votos que peço para Ricardo. Apenas acredito que ele seja o melhor para a Paraíba, onde moro há apenas cinco anos, mas tenho fortes raízes, e já sinto um imenso amor por esta terra. O mais interessante nisto tudo, é que estas minhas “raízes” - meu pai, que nasceu e cresceu em Queimadas e, desta forma, deveria ter maior préstimo por sua terra - não tem pensado no Estado como um todo, mas apenas em seus interesses pessoais, apoiando, deste modo, o candidato opositor ao meu.

Nenhuma ligação tenho com comitê algum de Ricardo, e nem ao menos o conheço pessoalmente, ou já tenha apertado sua mão, apenas, não sei por que bulhufas, acredito em suas palavras, como acreditei nas de Lula e me entreguei a causa. E, nestas eleições, carrego no peito o girassol.

Ratifico que nada recebi para escrever estas linhas e nada quero em troca dos votos que peço para Ricardo. Apenas espero que ele, assim como o fez o presidente Lula, honre, caso eleito, com seu compromisso com o povo paraibano que o colocou no segundo turno das eleições à frente do candidato que era dado como vencedor por todas as pesquisas.

Na realidade, antes de finalizar, gostaria de desdizer algumas coisas postas aqui. Não quero pedir seu voto para Ricardo Coutinho. Quero pedir que reflita sobre o que já fez para melhorar seu Estado, e se tem utilizado seu voto a favor de si ou de todos. E que lute pela causa que, porventura, acredite. Caso tal causa seja a eleição de Ricardo Coutinho como Governador do Estado da Paraíba, passe esse apelo adiante.

Agora é Ricardo, falta pouco, quase nada, nossa Paraíba tão amada já não quer mais esperar”.

domingo, 24 de outubro de 2010

Afeito ao amargor da solidão

Afeito ao amargor da solidão
E às desventuras d'uma vida triste
Eis que, Demônio Serafim, surgiste
De agrura vasta e parca mansidão

Despertando toda a sofreguidão
Como todo o sofrer que em mim existe
Deitas-te no meu leito, pões-me em riste
Mas censuras a minha prontidão

E apenas te reclinas sobre mim
E adormeces, porém, não me incomodo
Adormeço, aceitando teu preceito

E assim nós dois ficamos, e só assim
E amor fizemos, maior, deste modo
Que se, de fato, tivéssemos feito