sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Leia-me!

Minha personagem não é super-herói
Não é o Hulk
O homem de ferro
Minha personagem é Hamlet
É o Quincas Borba
Brás Cubas
É o Quixote chupando chiclete

Meus casais não são Lois e Clark
Não são Peter e Mary Jane
Meus casais são Bentinho e Capitu
Desdemona e Otello
Katherina e Petruchio

Meus versos não são tiras de quadrinho
São Cartas Chilenas
São Lusíadas
São Eneidas e Ilíadas
São Odisséias

Minha métrica não são rabiscos
Não é medida por compassos ou esquadros
Minha métrica é sentimento
É medida pelo tempo
Pelo instante
É shakespeariana
É alexandrina
É heróica
É livre

Meu herói não é morcego
Não se esconde numa caverna
Não dirige o batmóvel
Meu herói habita uma Taverna pútrida
E trafega pela Lira (que supera os anos)
Não ocupado em salvar o mundo
Mas a desvendá-lo

Minha casa não fica em Gotham City
Não é Krypton
Minha casa fica na Rua de Matacavalos
Moro num país tropical
Habito Strawberry Fields
E ainda um dia
Vou-me embora pra Pasárgada

Mas, no fundo, meu bem
O meu lugar
É onde você quer que ele seja

Meus mestres não são samurais
Não são ratos de esgoto
Não andam em cadeiras de rodas
Meus mestres são doutores
São mendigos
Falam grego e latim
Não se reúnem na sala da justiça
Uns reúnem-se em mesas de bares
Outros entre catedráticos
Ou ambos
São Renan Silva e Eric Gil
São Arturo Gouveia e Milton Marques Junior

Minhas artes não são marciais
Minhas artes são letras
São notas
São abstratas e concretas
É vida e ficção
São astros incandescentes
É o mar do Neruda
É o Tejo do Pessoa

Meus amigos não são feitos de pedra
Ou chamas
Ou borracha
Não são invisíveis
Meus amigos são feitos de sonhos
De palavras
De genialidade
São Solfieri e Bertram
Gennaro e Johann
Claudis Hermann
E, sobretudo, Penseroso e Satan

Meus elementos não são terra e fogo
Vento e água
Mas apenas coração

Não busco o pé da Cinderela
Busco a pata da gazela

Minha literatura são minhas próprias estórias
E outras tantas roubadas
São os contos de Machado
De Jorge Luis Borges
Os poemas de Garrett
De Leminski
Os sonetos de Camões
De Bocage

É a música;
Os escritos;
A vida do Poetinha

São os Tons de Jobins
As Rosas de Noéis
Caetanos
Chicos
Buarques
E mais Chicos
E mais Buarques

Minha poesia
Sou eu mesmo
Em versos
Imperfeita como o cotidiano
É um retrato em branco e preto;
Uma divina comédia humana;
Uma velha roupa colorida;
É caso comum de trânsito;
É o pequeno perfil de um cidadão comum

Quando enfadar-se do faz de contas
Das historinhas de gibi
Quando quiseres viver genuína literatura
Verdadeiro romance Machadiano
Leia-me!

Um comentário:

  1. Sou um ávido leitor deste blog, admiro muito suas poesias, algumas até, tive o prazer de recitar em alguns sarais e bares. Não diferente das outras obras, este poema está carregado de lira.

    convidou-os a visitarem um blog de compartilho com amigos.

    http://el-brog.blogspot.com/2012/01/o-poema.html

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