E ao acordar percebeu que não estava mais no seu quarto. Mas preferia assim. Quem o atendeu foi uma forma fractal de uma voz extremamente singular. E com uma expressão, sabia, reconhecia da terra, de preocupação.
“- Senhor José Jó de Marcos?”.
“– Sim”.
“– Cometemos um terrível engano”.
Não entendia bem do que se tratava, nem conseguia lembrar direito o que acontecera com ele na noite anterior. Sabia que o dia que antecedera aquele episódio não tinha ido bem, mas isso era natural. Sempre fora assim com ele.
“– Bem, após uma revisão no setor de distribuição, percebemos que o senhor foi enviado à família errada, ao destino errado, a vida errada. Sei que é difícil para o senhor. E pedimos mil perdões por isso.”
Só ouvira a primeira parte daquela extensa frase, daquela extensa revelação. Sempre teve a impressão que não podia ter nascido para aquilo, que não merecia tal penitência e que tudo aquilo não era justo. Mas ter a confirmação daquilo, saber que tudo tinha sido um erro, um lapso, e não daqueles que você comete por escolhas, mas sim, por que simplesmente nasceu. Isso era perturbador. Pensou em acordar, mas deixou-se por um tempo.
“– De forma que para compensar tudo que passou até os dias de hoje lhe gratificamos com a salvação eterna”.
Que engraçado, imaginava mesmo que só teria paz após a morte, mas nunca que seria em acordo tão disforme. Mas e as cicatrizes? Foram na alma. O acompanharia mesmo ao inferno. Trinta e três anos. Noites sem adormecer. Cintos pesados na sua infância. Fome. Surras na rua. Agulhas na veia. Quantas vezes pensou em dormir mais uma hora todo dia. Quantas virgens seriam suficientes para apagar todos os estupros em seu corpo? Quantas árvores da vida para saciar sua fome? Quantos rios de leite e mel, para diminuir sua cede? É certo que atravessou um longo deserto, mas não era, não precisava ter sido sua essa jornada. E de tudo, agora tinha ficado o medo que o pastor percebera com um olhar de nada poder fazer. O medo de que sua alma não sobrevivesse aos próximos prósperos dias no céu.
“- Senhor José Jó de Marcos?”.
“– Sim”.
“– Cometemos um terrível engano”.
Não entendia bem do que se tratava, nem conseguia lembrar direito o que acontecera com ele na noite anterior. Sabia que o dia que antecedera aquele episódio não tinha ido bem, mas isso era natural. Sempre fora assim com ele.
“– Bem, após uma revisão no setor de distribuição, percebemos que o senhor foi enviado à família errada, ao destino errado, a vida errada. Sei que é difícil para o senhor. E pedimos mil perdões por isso.”
Só ouvira a primeira parte daquela extensa frase, daquela extensa revelação. Sempre teve a impressão que não podia ter nascido para aquilo, que não merecia tal penitência e que tudo aquilo não era justo. Mas ter a confirmação daquilo, saber que tudo tinha sido um erro, um lapso, e não daqueles que você comete por escolhas, mas sim, por que simplesmente nasceu. Isso era perturbador. Pensou em acordar, mas deixou-se por um tempo.
“– De forma que para compensar tudo que passou até os dias de hoje lhe gratificamos com a salvação eterna”.
Que engraçado, imaginava mesmo que só teria paz após a morte, mas nunca que seria em acordo tão disforme. Mas e as cicatrizes? Foram na alma. O acompanharia mesmo ao inferno. Trinta e três anos. Noites sem adormecer. Cintos pesados na sua infância. Fome. Surras na rua. Agulhas na veia. Quantas vezes pensou em dormir mais uma hora todo dia. Quantas virgens seriam suficientes para apagar todos os estupros em seu corpo? Quantas árvores da vida para saciar sua fome? Quantos rios de leite e mel, para diminuir sua cede? É certo que atravessou um longo deserto, mas não era, não precisava ter sido sua essa jornada. E de tudo, agora tinha ficado o medo que o pastor percebera com um olhar de nada poder fazer. O medo de que sua alma não sobrevivesse aos próximos prósperos dias no céu.
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