domingo, 8 de janeiro de 2012

III

De teus cabelos loiros, as madeixas
Se descobrissem-te os olhos dispersos
Quiçá veria os teus sonhos diversos;
Talvez até soubesse as tuas queixas

Os mistérios que em teu âmago enfeixas
Tornaram, pois, heroicos os meus versos
Porém, não sabes dos cuidados tersos
Do meu amor, Pequena, que desleixas

Mas antes do quarteto inicial
Tais menosprezos já me eram previstos
Sei que aquila non captat muscas, bela

Concebia-os apenas no ideal:
Teus belos lábios tais quais nunca vistos;
Teus intangíveis olhos de gazela

sábado, 7 de janeiro de 2012

II

Mui bela lira, num tórrido canto
Desejava ofertar-te, pois, Pequena
Mesmo bucólica uma cantilena;
Uma cantiga; ou um suave acalanto

Lustrosos versos, de causar-te espanto
Quem dera dessem-me ao papel a pena
Mas a falta de engenho me condena
Embora o sentimento seja tanto

Não te alcança esta poética chinfrim
Copiosa em romantismos obsoletos
Tal barafunda te vales, enfim:

Executando, Gal e Elis em duetos;
Com os arranjos de Apolo e de Jobim;
De Bocage, os mais líricos sonetos

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

I

Atônito, eu me questionava, ao sol das três
Se não seria mentira - ansiando o contrário -
A bela ninfa que tomava o vil cenário
Em passo airoso e mui notável altivez

Deu-me passagem; mostrou-me a pálida tez;
Dois olhos negros d'um fulgor incendiário;
Inda encerravam o seu precioso relicário
Mimosidade, formosura e languidez

Que Essa Pequena guardasse outros predicados
Não cria eu, julgando bastos os citados
Mas revelou-se em perfeição descomedida

Quando, impiedosa, num cantar grave e conspícuo
Feriu-me a pobre alma – mas d’um ferir profícuo
Tal qual se rasga a terra a fim de dar-lhe vida