sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Professorinha de religião

“Because I love you too much baby”


Uma das cenas que nunca vou esquecer... É que jamais amaldiçoarei teu sorriso.
Lembro do teu olhar e acho que era meigo. Em contrapartida, a sisudez dos gestos dele e a perfeita sincronia com que amarrava todos os argumentos de uma boa aula o faziam respeitável.
Já era a ti que bendizia toda a fé aos grandes gestos. Foi contigo que ganhei o gosto aos hipérbatos, aos infinitos, ao eterno.
Foi por ti que me arrisquei entre o caminho do paraíso e a devoção ao inferno. Por que minha virtude foi ter agarrado tua lembrança pura mesmo depois de saber tuas heresias. Condenei-me...
Que teria tardado mais alguns minutos da minha dúvida, das minhas saudades, das minhas segundas melhores inocentes intenções, se soubesse o que veria.
“- Que não temerei mal algum, que não temerei mesmo caminhando no vale das sombras da morte”. E com o terço entre suas mãos, rezava fervorosa pedindo a Deus a sua benção pelo homicídio divino do corpo. Sonhava subir ao céu, mas como se entregava a todos os demônios, como gemia entre convulsões celestiais cantando os mais belos louvores, os mais lindos cânticos. Blasfemava na terra... “-Santo, santo, santo... três vezes santo”. Gritava, rosnava, rangendo os dentes e procurando acima de si o sentido para tanto ardor. E chorava, arquejava, perante sua confiança avassaladora em algo que a consumia como o fogo do espírito santo que descia para purgar seus pecados em punhaladas certeiras no seu íntimo já quase esgotado. Pingava de suor na batalha milenar pela salvação das almas dos escolhidos. “- Ah! Por tuas lanças clamo aos anjos, aos arcanjos, imploro a todos os demônios!”
Seu corpo estava preso entre o quadro e o birô. A cortina estava suspensa. “Rasgou-se o véu de cima a baixo”. Desabou um corpo ao chão... Foi ali que a lição se fez superar os mestres. Apesar de a religião maldizer os dias de prazer, nunca mais subestimei um professor de educação sexual.

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