sábado, 12 de setembro de 2009

"R"

Se o vento entre as folhas da copa não tivessem escorrido o som e a correnteza levado metade de minha voz, teria lhe dito, naquela acaso, que ficasse... mas não lhe disse.
Se a noite não tivesse tapado todo meu rosto e a chuva não tivesse escondido meus prantos... Se... Terminei olhando o meio-fio e debulhando minha alma...
Não é que o anoitecer tivesse descido bem ao meio dia, mas confesso que meu espírito estava sombrio...
E se tivesse parado e guardado um pouco de nossas lembranças, se tivesse escondido o tempo, se tivesse congelado o momento, se tivéssemos abandonado o medo, se tivéssemos enfrentado o mundo...
Teria lhe dito, tempos depois, que o sol apareceu, mas que meu corpo continuava escuro e meus pés ainda sentiam inerte o frio da chuva do choro dos meus olhos. E que a geada dos dias anteriores não tinha passado. Que ela ainda estava distante dos meus braços.
E teria sofrido; e teria pensado; e teria constituído; mas isso nunca significou que continuei. Por que depois do “sim” foi o “não” que acalentou, que pós no sono, que deu carinho. Teria lhe sussurrado anos depois; décadas depois, entre nossos soluços de adeus: “não sei viver sem ti”. Por que envelheci ligeiro e por que amei muito e pouco.
Mas no por do sol seguinte foi nela que pensei olhando para o teto, foi dela que preservei cada afago, cada estrela no céu do nosso primeiro beijo. E eram poucas. A noite fez questão de está presente; as estrelas, de espiar a fábula e o céu de derramar lágrimas.
Uma vida depois e não ter sonhado com mais nada. Foi você quem esperei a vida toda.
Que se respeite um minuto de silêncio... ainda não aprendi a viver sem teus abraços, sem teu sorriso, sem teu perfume, sem tua voz, sem toda dádiva, sem o sossego e a inquietação que habitam teu corpo.

2 comentários:

  1. Terminei olhando o meio-fio e debulhando minha alma...

    Foi assim que fiquei quando acabei meu namoro...
    Este conto retrata o fim do meu namoro...

    Nossa vcs me fizeram relembra tudo e chorar diante dessa besteira que eu fiz em minha vida que foi acbar meu namoro...

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  2. Aiko, fico feliz por ter gostado do nosso blog e ter se identificado com meu conto, ao mesmo tempo que me entristece saber de sua solidão, de sua angústia. Sempre repito que a diferença entre um homem e uma criança não é só as escolhas que os dois fazem, mas tem haver principalmente com como eles se comportam com suas consequencias. O menino apenas desliga a luz e vai dormir... o homem veste a roupa e sai. E é isso, talvez nunca consiga consertar o erro, mas quem sabe não consegue repará-lo... além do posicionamento, cabe-nos escolher como nos posicionamos. De resto, novamente agradeço e espero que continue acompanhando e comentando, nada nos deixa mais grato.

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